domingo, 10 de fevereiro de 2008

MEED: Método Empírico da Evolução Disfuncional

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O tipo de prancha não interessa muito, vou chegando a essa conclusão. O elemento onde a usamos também não; água, asfalto, neve, não interessa...O importante é tê-la debaixo dos pés e ter uma vontade genuína de a usar, pois o objectivo é comum em relação a todas elas, independentemente da categoria em se enquadrem: atingir, controladamente, uma velocidade vertiginosa e experimentar, assim, um momento da mais pura adrenalina, esperando que alguma coisa de verdadeiramente insuperável nasça do meio desse turbilhão. E se, no meio dessa névoa concentradamente difusa, em alguma altura pensarmos ‘ai, ai, ai…se eu caio agora vou partir o fémur em, pelo menos, dois sítios diferentes…’, então, é porque está a valer a pena... No entanto, uma costela kamikaze e blackouts pontuais são os elementos basilares para uma evolução galopante, ainda que disfuncional, mas que, eventualmente, acabará por dar os seus frutos. Danos colaterais? Alguns... Cotovelos rasgados, joelhos ensanguentados e 'engravilhados', aquela sensação de termos um sino a tocar dentro da cabeça, dores lancinantes na coluna, cabeças rachadas, e, em alguns casos, virilhas furadas. Tudo é feito com 'amor à prancha', com um ténue salpico de loucura profunda, e o resto é conversa...

Admito que sou um acérrimo apologista - e algo batido! - do MEED (Método Empírico da Evolução Disfuncional) e recomendo que o experimentem, não querendo estar a ser, com isto, condescendente. De todo! Este é apenas uma forma de evoluir. E funciona...

Passo a explicar: este método é fundado na ausência da própria metodologia. É ‘prática’ que resulta em teoria. É ‘método’ na medida em que se considera uma ‘forma’ de fazer alguma coisa. Não é ‘metodologia’ porque não envolve um estudo rigoroso, prévio, processual e técnico. É, por isso, empírico. Constrói-se e sedimenta-se de forma proporcional ao da própria experimentação. Da experiência (enquanto método, no sentido em que o afirmamos) resulta o conhecimento (do que se pode/deve ou não fazer), e este potencia a evolução (do domínio da técnica, essencialmente). Porquê disfuncional? Inevitavelmente, este processo regista uma série de acções que vai padronizando vícios, efectuando-se sempre de forma rígida, não deixando, por isso, outras possibilidades ou alternativas. Ou seja: verifica-se um bloqueio da percepção racional no momento da acção e o resultado (bom ou mau) sedimenta-se como regra (se o resultado é satisfatório continua a fazer-se da mesma forma; se é insatisfatório - resultando em danos colaterais - faz-se, igualmente, da mesma forma até deixar de o ser…). É como um vírus: ainda que nefasto, cresce e evolui. Simples, completamente parvo e, ainda que de maneira perversa, frutífero…

Vejamos, agora, um exemplo ilustrado:

Local: Snowpark da estância de Morzine – Avoriaz, Alpes franceses;
Executante: Alphas Von Funk & Screw, O Kamikaze Alpino;
Objectivo: em três lombas (de denominação ‘vermelha’, para quem está a par da hierarquia), executar três saltos, a roçar o voo, com uma aterragem perfeita, sem partir qualquer tipo de elemento físico (corporal ou acessório).

Imagem A) Em pleno ar: o salto efectuou-se há menos de um segundo e o último pensamento de causa/efeito registado foi ‘…e agora…SALTA!’. Nada mais foi pensado depois disso. Blackout total traduzido por um sonoro ‘uhuuu-uhu-uhuuuu!!!’, que ecoa na cabeça do executante, abafando tudo o resto.

Imagem B) A aterragem: o ‘despertar’ processa-se de forma rápida e atabalhoada. O executante aterra correctamente, ainda que de uma forma absolutamente inconsciente – o MEED em aplicação directa e eficaz.

Imagem C) O controlo: já ‘em terra’, o executante passa por um período em que visualiza, de forma rápida e aleatória, as diferentes alternativas de que dispõe para que a queda, inevitável, se torne o mais suave possível. A ampla experiência de encontros anteriores com o pavimento, asseguram-lhe de que o fará acertadamente.

Imagem D) Com neve onde o sol não chega: o focinho espetado no chão recorda o executante que tudo acabou. A queda é aparatosa e o voo inesperadamente comprido. O facto de a quantidade de neve que tem nos bolsos ser superior à que existe na Serra da Estrela em pino invernal não o conduzem à desmotivação. Pelo contrário…Próxima coisa a fazer: tentar outra vez…

Conclusão não-erudita: só não cai quem não salta, e quem salta assim…é bom que goste de cair!

O vosso

Alphas

(Crew: as notícias são escassas mas as saudades apertam. Agora em território alpino, mais uma vez assumo o humilde papel de representante da nossa baía. Papel que assumo de coração aberto e com um orgulho inesgotável. Espero que esteja tudo bem com todos e que a vida, por aí, continue na mesma...)

2 comentários:

disse...

Bem pensado, melhor teorizado e sobretudo, majestosamente concretizado.. Apenas faltou ressalvar que sempre haverá quem dê luz à velha máxima popular: "quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita" - o que não é certamente o caso.

RP disse...

Boa Mike! Nunca pensei ser possível teorizar (muito menos expressar, e por escrito!) a merda que tens andado a fazer em cima de pranchas durante todos estes anos!!!