sexta-feira, 6 de junho de 2008

Nem todas as baías são aquáticas...

Pode-se fazer baías com tinta...
Ou então.. pó... ou giz...
Mas também... que tal tentar com papel?
A terra... essa é também excelente para as fazer crescer e depois destruir...

Enfim..
Existem outros mundos para explorar...

http://engenharte.blogspot.com/

1 comentário:

Lenitah disse...

Ou baías de palavras... mundos erguidos e sustentados dentro de nós. Sensações. É no toque dos dedos e pelo vento quando abrimos a janela...

Sobre o poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Helder