sábado, 5 de abril de 2008

Macau Express: "Macau, sempre leal"

Ruínas de S.Paulo, a fachada da nossa presença
Poder-se-à dizer (muitos não terão dúvidas) que o conceito de estado-nação é um conceito artifical, criação motivada por objectivos geo-políticos em determinado momento da história da humanidade. Já quanto ao conceito de povo creio que o mesmo já não valerá. O Homem é um animal social que desde sempre viveu em comunidade, criando laços, desenvolvendo formas de comunicação, hábitos, cultura. É o conjunto de tais vivências comuns que vai definindo um povo ao longo da história. Sortudos os que, como nós, fizeram coincidir o âmbito do povo com aquele do de estado-nação. Com mais ou menos regionalimos, mais ou menos sotaque, falamos todos a mesma língua, chegamos sempre atrasados e somos mestres na arte do desenrascanço.... Tal sorte não tiveram, contudo, os nosso vizinhos ibéricos que vêm o seu estado fracassar na proposta de aglomeração pacífica de vários povos. Deviam pensar nisto os defensores do Iberismo. Se é certo que razões não houve (do ponto de vista geográfico, étnico ou linguístico, exceptuando, claro, a birra do nosso primeiro Afonso com a Senhora sua Mãe) para, desde cedo, tomarmos em nós outro rumo, a verdade é que, hoje, somos um povo distinto dos nossos irmãos espanhois, bascos, galegos ou catalães e não há economia fulgurante que compre a paz da união...
Perguntam vocês, e bem, o que tem isto a ver com Macau. Ora, dos muitos defeitos colectivos que temos o que mais me repugna é a maledicência colectiva de nós mesmos e do nosso país. A queixice. Vejo-a, contudo, compensada, porque tem tanto de racional como pouco de sentimental. Ninguém verdadeiramente sente aquilo que de mal diz e isso acaba por revelar-se nos momentos mais difieis. Aqueles em que "estamos à rasca..." Durante três séculos os defensores do Iberismo rejubilaram, foi o reinado dos Filipes, onde a bandeira hispânica substitui a nossa em todos os locais do mundo. Todos menos um: Macau. Isolado do Império, num canto recondito da Ásia, onde as notícias chegavam meses depois, um punhado dos nossos, desafiando um potencial ataque da temível armada espanhola disse não. À rasca sim, mas com orgulho. Graças a eles, a nossa (não a da nação, a do povo) nunca deixou de voar, por um momento, altiva, num qualquer canto do mundo. Graças a eles esta terra ganhou um epíteto que levou gravado na sua bandeira: "Macau, sempre leal"...

Encontrei esta placa no forte de Macau. É um dos muitos vestígios que, escondidos ou totalmente descontextualizados, me vão rasgando uns sorrisos impartilhaveis. Sentei-me por uns instantes a observá-la. Muita gente passou por ela. Olharam. Quase ninguém a viu. Diria que ninguém a entendeu. Estou certo que só eu a senti...

Sem comentários: